Guillermo del Toro

Guillermo del Toro: entre o real e o sobrenatural

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Hellboy e o Homem Torto está para chegar às telonas no dia 5 de setembro, mas esta versão será muito diferente da de Guillermo del Toro, e muito mais inspirada nos quadrinhos originais de Mike Mignola. Falaremos sobre o novo longa em nossa crítica especializada, mas enquanto aguardamos o lançamento, decidimos celebrar o cineasta que nos trouxe o “Vermelho” pela primeira vez.

Afinal, estamos falando do primeiro diretor responsável por filmes de “super-heróis” a ganhar um Oscar, em 2018, seguido por Christopher Nolan (da trilogia O Cavaleiro das Trevas), neste ano de 2024. Venha conhecer a trajetória do cineasta, neste artigo da Citou Filmes!

Raízes do cineasta

Qualquer espectador minimamente familiarizado com quaisquer trabalhos pretéritos de Guillermo del Toro, nota a sua assinatura em todos os seus filmes. Um criador que pretenda produzir algo genuíno deve, como um maestro, saber reger o caos de forma que se transforme em harmonia e passe uma mensagem. Afinal, música é comunicação, tal qual o cinema.

Raízes do cineasta
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

É fundamental valorizar a trajetória de Guillermo del Toro enquanto cidadão mexicano – cuja cultura vê a morte de forma muito diferente; e cujo idioma, como qualquer outro, traz um ritmo de pensamento diferente do americano nativo – e como de família católica. Em sua criação pesou a influência de sua avó, católica conservadora, que levava com muita seriedade a culpa cristã. Guillermo encontrou nessa rigorosa fé uma jaula invisível.

Nada disso seria relevante para a sua profissão sem, no entanto, apaixonar-se por monstros desde sua experiência fílmica com Frankenstein (1931) – cuja identificação emocional pela obra de Mary Shelley só foi possível por enxergar-se na criatura incompreendida. Afinal, o controle ao qual a criatura era submetida poderia remeter ao que o jovem passava no lar.

Os verdadeiros vilões

A relação de cumplicidade de Guillermo del Toro com os monstros, dado esse entendimento da incompreensão de que eram vítimas, contrasta com o que realmente dá medo ao diretor: os grandes poderes estabelecidos, cujo uso não raramente se dá de forma irresponsável e antiética; seja no poder do monopólio da violência, político, religioso, ou de quaisquer outras formas de coerção em massa.

Esse medo impregna o DNA de toda a filmografia de Guillermo del Toro: desde a grosseira arregimentação do governo ditatorial de Franco, na Espanha, como verdadeira vilã de O Labirinto do Fauno (2006); perpassando pela ganância e conquista sangrenta da espécie humana como motivação do antagonista de Hellboy II (2008), o Príncipe Nuada.

O auge de seu reconhecimento como cineasta, A Forma da Água (2017), baseia toda a sua trama na constatação de que um amor entre humana e criatura pode ser mais verdadeiro do que todas as relações quebradas entre a nossa espécie.

Se a macro-história de Pinocchio (2022) e O Labirinto do Fauno nos conta a ascensão e queda do regime fascista, as infindáveis micro-histórias nos relatam abusos muito mais localizados e, paralelamente, muito mais frequentes. Não há nada mais aterrorizante do que uma ameaça que pode estar em um vizinho, um familiar, ou em uma simples pessoa de passagem pela rua. Esses são os inimigos mais assustadores de suas obras.

Legado da obra

O legado de Guillermo del Toro não se encerra em sua abordagem do fantástico macabro face ao verdadeiro macabro. Qualquer obra madura que discuta a jornada de uma figura vista como monstruosa chega à conclusão de que o verdadeiro monstro está no interior.

Legado da obra
Fonte/Reprodução: Universal Pictures/Warner Bros. Pictures

Portanto, a necessária autoaceitação de seus personagens implica na necessidade de que a figura monstruosa permaneça igual por fora, para que se entenda por dentro. Quando o desfecho se converte na “cura” da personagem (como o Pinóquio da Disney voltar a ser um menino, ou a Fera deixar de ser um monstro bestial), toda a jornada que acompanhamos perde o seu motivo de ser.

Se há algo que sempre esteve fixo na mente de Guillermo del Toro é a necessidade de manutenção do status quo exterior das personagens, para que aceitassem ou mudassem o que realmente importa, o interior; como ocorreu com Hellboy e Abe Sapien, com o Homem Anfíbio, e como o caçador de vampiros da Marvel, Blade, cujo segundo filme também foi dirigido por del Toro.

Conseguiu matar a saudade dos filmes de monstro de Guillermo del Toro? A maior parte da sua filmografia está espalhada pelos serviços de streaming (Prime Video, Netflix e Max), caso queira reassistir ou conhecer alguma de suas obras. Para mais curiosidades como essas, confira os outros artigos da Citou Filmes!

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