Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025) | Crítica

Lançado em 2013, Invocação do Mal marca um ponto de virada no terror contemporâneo. Sob a direção de James Wan, o filme resgatou elementos do horror clássico, mas os revitalizou com uma precisão técnica e narrativa que a destaca no gênero. Inspirado em eventos reais e centrado no casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson), a obra constrói a sua tensão de maneira gradual, apostando mais na atmosfera e no desconforto psicológico do que em sustos gratuitos.

Porém, o sucesso do longa levou a uma franquia cada vez mais inchada, seguindo o modelo de universo cinematográfico — e aí mora o problema. Embora Invocação do Mal 2 (2016) mantenha boa parte da elegância e do cuidado técnico, já se nota um leve deslocamento para o espetáculo: mais jump scares e efeitos, e menos sutileza. A partir daí, os spin-offsAnnabelle, A Freira, A Maldição da Chorona — mergulharam em fórmulas cada vez mais previsíveis, muitas vezes reduzindo o terror a sustos repentinos e tramas esquecíveis; sem a construção atmosférica que fez o original brilhar.

Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica
Fonte/Reprodução: Warner Bros.

Mesmo Invocação do Mal 3 (2021), dirigido por Michael Chaves em vez de James Wan, revela um desgaste claro: a tentativa de ampliar o escopo da história, saindo do ambiente da casa assombrada para tramas policiais e satânicas. Isso diluiu a tensão e tornou o filme genérico. A franquia, uma vez sofisticada e elegante, tornou-se refém da própria mitologia e da necessidade de expansão, perdendo a identidade e refinadanamento do primeiro longa.

Invocação do Mal 4: O Último Ritual, por sua vez, retoma em boa medida esses elementos, ainda que sem abrir mão do uso em peso dos jump scares e convenções do gênero — mas em consonância com o desconforto e suspense psicológico. 

Com o retorno de Michael Chaves na direção e roteiro de Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick, o longa traz o casal Warren em um momento diferente de suas vidas. Após os eventos de A Ordem do Demônio e o infarto de Ed, o casal decidiu se aposentar, dedicando-se apenas a palestras e à família. 

Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica
Fonte/Reprodução: Warner Bros.

No entanto, a paz é interrompida quando eles são chamados para investigar um dos casos mais famosos e controversos de sua carreira: o assombro da família Smurl, na Pensilvânia. Desde a década de 70, a família relatava fenômenos perturbadores — sons inexplicáveis, cheiros insuportáveis, ataques físicos e até abusos atribuídos a entidades malignas. Então, Ed e Lorraine são trazidos por sua filha (Mia Tomlinson) de volta, ainda que a contragosto, ao perceberem a gravidade da situação e a sua relação com o passado.

O longa inicia em 1964, ano em que Lorraine deu à luz Judy, filha do casal. Em um caso antigo, um espelho amaldiçoado entra em cena, e afeta diretamente o nascimento do bebê. Cria-se, portanto, uma conexão entre passado e presente. Décadas depois, o mesmo objeto reaparece, reforçando a ligação da maldição não com a família Smurl, mas com os próprios Warren, especialmente Judy, agora adulta e noiva de Tony (Ben Hardy).

Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica
Fonte/Reprodução: Warner Bros.

O último capítulo da franquia traz de volta alguns de seus elementos icônicos, como referências a Annabelle e outros casos investigados pelo casal, criando um senso de encerramento para toda a saga. O seu diferencial é a carga emocional significativa, dado o foco no contexto familiar dos Warren.

Além disso, o que torna Invocação do Mal 4: O Último Ritual tão eficaz é, assim como o primeiro longa, a sua abordagem metódica. James Wan entende que o verdadeiro terror reside no desconhecido e na antecipação, e Michael Chaves tenta reproduzir isso de forma competente. 

O filme se desenrola lentamente, construindo o medo de forma gradual e quase insidiosa. Ele não joga tudo na sua cara de uma vez; em vez disso, tece uma tapeçaria de tensão, usando ângulos de câmera claustrofóbicos, um design de som de qualidade e a constante sensação de que algo está à espreita, bem fora do seu campo de visão. A trilha sonora de Benjamin Wallfisch ajuda a criar a atmosfera sombria e dramática da obra.

As atuações também elevam a experiência. Vera Farmiga e Patrick Wilson entregam versões empáticas e humanas dos Warrens, afastando-os do estereótipo de caçadores de fantasmas sensacionalistas e aproximando-os de figuras quase trágicas, movidas por fé, dever e zelo familiar. Esse vínculo emocional é essencial para estabelecer a sensação de urgência no longa.

Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica
Fonte/Reprodução: Warner Bros.

Outro mérito é a recusa em depender exclusivamente apenas do susto fácil. Apesar do uso em peso dos jump scares, o quarto capítulo retoma o medo que se acumula. Essa construção clássica, quase hitchcockiana — ainda que em menor uso em relação ao primeiro —, confere elegância ao filme.

Se há um ponto de crítica, seria sobre os momentos em que a dependência das convenções do gênero se intensifica. Há uma previsibilidade de alguns arquétipos — a família inocente, a casa amaldiçoada, o exorcismo final —, ainda que executados de forma competente. 

Invocação do Mal 4: O Último Ritual é o mais longo da franquia, com seus 135 minutos. A produção encerra a saga misturando sustos, emoção e referências aos outros filmes, oferecendo aos fãs uma conclusão repleta de nostalgia, fé e esperança. O resultado é um filme que legitima os longas de 2013 e 2016, equilibrando sustos e narrativa de forma honesta, e mais uma vez baseando-se nos relatos dos Warren na vida real — homenageados nos créditos finais.

Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica
Invocação do Mal 4 O Último Ritual (2025) Crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recomendados