Em meio a tantos termos cinematográficos, um dos mais importantes para o entendimento social nas obras é o Female Gaze. Através de sua compreensão, conseguimos observar o papel da mídia em nossa construção cidadã e como temos o dever de entender as relações sociais que nos rodeiam.
Deseja saber mais como um termo como esse está presente em nosso cotidiano e em nossas formas de entretenimento? Siga com a leitura, veja como ele está relacionado ao dia a dia e como podemos e devemos desenvolvê-lo mais!
O que é Female Gaze e como isso se encaixa no cinema?
No cinema, na maioria dos filmes desde seu surgimento até os dias atuais, estamos acostumados a sempre ver um determinado ponto de vista sobre as relações sociais: o masculino, cis gênero e heteronormativo. Ou como foi definido posteriormente pela teórica feminista Laura Mulvey, o Male Gaze.
Essa representação mostra como os homens, a maioria responsáveis pela criação e desenvolvimento de filmes, via o público feminino como alguém que está lá para realizar seus desejos e fantasias. Mas, também como a própria sociedade estava moldada em volta dessa desigualdade de gênero.
O Female Gaze, ou olhar feminino, busca representar na mídia a realidade feminina enquanto agentes de ação, ou seja, uma retratação mais fiel. No cinema, a exibição da realidade de maneira mais coerente e representativa é necessária, não apenas por retratar e respeitar a vivência das mulheres. Mas, principalmente, por se tornarem grandes meios de inspiração para mudanças efetivas nas relações sociais de gênero.
Em outras palavras, o Female Gaze se encaixa no cinema como uma estratégia de redefinição desse olhar cinematográfico. Que estrutura uma representação da realidade feminina nas obras que muitas vezes dão base a essa dinâmica desigual de poder social que perpassa os gêneros.
O que significa Female gaze?
O termo Gaze significa, em outras palavras, “olhar”, mas não apenas no sentido da visão, mas sim de um ponto de vista, ou, um olhar sobre algo/alguém. Neste contexto, em específico, de “Male/Female Gaze” é um olhar sobre o outro. Assim, o termo significa um olhar feminino sobre a realidade que está sendo retratada naquela obra.
Esse ponto de vista é essencial para a representação nas mídias, de que fato é a realidade das mulheres, buscando superar a irrealidade e a negatividade, que foi construída socialmente com a naturalização do Male Gaze nas telas. Que representava as mulheres como um objeto, muitas vezes sexualizado e desvalorizado, e nunca como o observador.
Qual é a origem desse termo?
A origem do termo Male Gaze surgiu em 1975 pela teórica feminista Laura Mulvey, em seu artigo produzido “Prazer Visual e Narrativa Cinematográfica”. Sendo muito importante para o entendimento de como as obras cinematográficas estavam representando a realidade feminina.
O resumo da obra de Mulvey sugere que o prazer visual e as obras cinematográficas estão interligadas e relacionadas enquanto são representados as dinâmicas de gênero de forma desigual. Já que se resume na figura do homem enquanto figura ativa e a feminina como passiva e objetificada.
Tal dinâmica mostra a própria realidade das mulheres na sociedade ao representar simbolicamente a mulher a esse espaço fantasioso, de submissão e sempre presas a esse lugar. Não apenas na ficção e nas representações midiáticas, como, principalmente, no cotidiano sob a ótica do patriarcado.
Quais os tipos?
Os tipos de Female Gaze que buscam revisitar uma nova representação antes objetivada. Que vão desde o olhar feminino com uma perspectiva mais feminista sobre a vida e suas relações, sexualidade. E principalmente, uma perspectiva racial e como isso implica em diferentes modos de vida.
Feminismo
O Female Gaze está pautado em uma perspectiva feminista em relação e representação mais fiel à realidade. Isso acontece enquanto traz à tona o olhar feminino sobre todas as relações que a permeiam.
Sejam elas de desigualdades históricas, demandas atuais ou até mesmo uma nova representação do que significa ser mulher e suas respectivas questões. Rompendo, assim, com a naturalização de papéis de gênero que não devem mais ser reproduzidos.
Sexualidade
O olhar masculino vê as mulheres como objeto que está presente para realização de todos os seus desejos. Seja no sentido social, enquanto sua mulher que cuida da casa, dos filhos, mantendo-se sempre jovem e bonita para apoiar seus sonhos, como agentes passivos. Tanto em questão sexual em um sentido heteronormativo.
Quando as mulheres possuem uma orientação sexual diferente, elas só são aceitas sob esse prisma se as duas mulheres o estiverem servindo visualmente.
O Female Gaze nesse sentido traz a perspectiva de que essas mulheres não vivem em prol de uma fantasia masculina, e sim porque querem e podem viver seus próprios desejos de forma pessoal.
Questões Raciais
É necessário pensar com uma base analítica feminista, que historicamente as questões que perpassam as mulheres brancas não são as mesmas das mulheres negras.
Dessa forma, é importante que a representação da mídia, mediante toda a desigualdade que isso gerou e ainda gera no cotidiano dessas mulheres, deve ser questionada, para que papéis de gênero. Mas, também comportamentos, falas e perspectivas racistas sejam cada vez mais redefinidas e minimizadas na sociedade.
Dessa maneira, conseguimos entender que o Female Gaze no cinema tem um papel crucial que molda nosso olhar sobre o cinema e sobre a sociedade.
Quais as diferenças entre Female Gaze e Male Gaze?
A diferença entre o Female Gaze e o Male Gaze é que enquanto este é um ponto de vista que mostra a realidade feminina sob o prisma masculino, as exibindo como passivas e aptas a realização dos desejos dos homens. O primeiro seria uma reformulação, retratando na mídia a realidade sob o prisma feminino.
Ou seja, é a retratação de mulheres sobre a sua perspectiva, enquanto agentes ativos nas relações que acontecem. Para além de sua mera retratação, enquanto agente passivo de um homem.
Dessa maneira, esperamos ter te ajudado a entender o termo Female Gaze e sua importância. Para as mulheres poderem, cada vez mais, se enxergar dentro da mídia de uma forma mais fiel. Não apenas como observadoras, mas sim como produtoras, roteiristas, diretoras e entender que o seu lugar é onde quiser e mostrar toda a diferença.
