“Cruzada” (Kingdom of Heaven no original), lançado em 2005 e dirigido pelo renomado Ridley Scott, é um filme que mergulha de cabeça em um dos períodos mais tumultuados e fascinantes da história: as Cruzadas. Mais do que uma simples aventura de capa e espada, a obra se propõe a ser um épico histórico que explora temas complexos como fé, guerra, moralidade e a busca pela paz em um mundo dilacerado por conflitos.
Com uma ambição visual e narrativa grandiosa, o filme convida o espectador a uma jornada através das paisagens desoladas da Terra Santa e dos intrincados jogos de poder da época. A produção de Scott não apenas impressiona pela sua escala e realismo, mas também pela maneira como tenta humanizar figuras históricas e eventos que, muitas vezes, são retratados de forma simplista.
Ao focar na perspectiva de personagens que buscam um terreno comum em meio ao fervor religioso e à violência desenfreada, “Cruzada” oferece uma reflexão pertinente sobre os perigos do fanatismo e a importância da tolerância, temas que ressoam fortemente mesmo nos dias atuais.
O que é o filme “Cruzada”?
“Cruzada” é um épico histórico que se desenrola no final do século XII, ambientado na Terra Santa durante o período que antecedeu a Terceira Cruzada. Dirigido por Ridley Scott, um mestre em dar vida a narrativas grandiosas como “Gladiador” e “Blade Runner“, o filme se destaca pela sua impressionante cinematografia, vastos cenários e cenas de batalha coreografadas com maestria.
Scott, conhecido pelo seu olhar meticuloso para os detalhes e sua capacidade de transportar o público para épocas passadas, entrega em “Cruzada” uma visão sombria e realista dos conflitos que assolaram Jerusalém. O filme foi concebido para ser mais do que um mero espetáculo visual; ele busca provocar reflexão sobre as motivações por trás das guerras religiosas e a complexidade das relações entre diferentes culturas e credos.
Ao escolher um período tão carregado historicamente, Scott não apenas reconta eventos, mas também oferece uma perspectiva sobre a natureza humana, a fé e o que significa buscar um “reino dos céus” na Terra, questionando os ideais e a brutalidade que permearam as Cruzadas.
Enredo principal: a jornada de Balian de Ibelin
O cerne da trama de “Cruzada” segue a jornada de Balian de Ibelin, interpretado por Orlando Bloom, um ferreiro francês que, após uma tragédia pessoal, vê sua vida mudar drasticamente.
Desiludido e em luto, Balian é confrontado por seu pai, Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), um nobre cruzado que ele nunca conheceu. Godfrey revela a Balian sua linhagem e o convida a acompanhá-lo à Terra Santa, oferecendo-lhe um novo propósito em meio ao caos das Cruzadas.
A chegada de Balian a Jerusalém o insere em um complexo tabuleiro político e religioso. Ele se encontra em um reino frágil, liderado pelo sábio e leproso Rei Balduíno IV (Edward Norton), que busca manter uma trégua precária com o sultão muçulmano Saladino (Ghassan Massoud).
Balian ascende de ferreiro a cavaleiro, herdando a responsabilidade de defender Jerusalém e os seus habitantes, enquanto luta para preservar a paz em meio às ambições de nobres sedentos por guerra, como Guy de Lusignan (Marton Csokas) e Reynald de Châtillon (Brendan Gleeson), que ameaçam desestabilizar o frágil equilíbrio da região.
Produção de “Cruzada”
A grandiosidade de “Cruzada” não se limita apenas à sua narrativa ambiciosa; ela se estende profundamente aos aspectos de sua produção. Ridley Scott e sua equipe embarcaram em um projeto de proporções épicas, com o objetivo de recriar o mundo do século XII com um nível de detalhe e realismo que poucas produções cinematográficas se atreveram a alcançar. Esse compromisso com a autenticidade e a escala colossal é evidente em cada quadro do filme.
O processo de criação e os bastidores do filme
O processo de criação de “Cruzada” foi meticuloso e ambicioso desde o início. Ridley Scott dedicou anos à pesquisa e ao desenvolvimento do roteiro, buscando capturar a complexidade política e religiosa da época das Cruzadas.
Sua visão era a de criar um épico que não glorificasse a guerra, mas que explorasse as nuances dos conflitos e os dilemas morais enfrentados por seus personagens. Os bastidores do filme foram marcados por um gigantesco esforço logístico, que envolveu a construção de sets maciços e a coordenação de um elenco e uma equipe internacional.
Scott é conhecido por seu estilo de direção imersivo e sua capacidade de extrair performances autênticas de seus atores. Nos bastidores de “Cruzada”, ele incentivou o seu elenco a mergulhar nos papéis, com Orlando Bloom passando por um intenso treinamento físico para as cenas de luta e equitação.
A dedicação da equipe em replicar a arquitetura, os figurinos e os costumes da época contribuiu para a imersão do público, transportando-os diretamente para a Terra Santa do século XII e para o coração dos eventos que moldariam a história.
Escala, locações e investimento em realismo histórico
A escala de “Cruzada” é verdadeiramente monumental, com um investimento massivo em locações e na criação de cenários autênticos para garantir o máximo de realismo histórico. As filmagens ocorreram principalmente em Marrocos, que, com suas paisagens desérticas e cidades antigas, ofereceu um cenário perfeito para replicar a Terra Santa.
A cidade fortificada de Aït Benhaddou, um Patrimônio Mundial da UNESCO, serviu como um dos principais locais de filmagem, proporcionando uma ambientação incrivelmente crível para as cidades fortificadas medievais.
Além das locações, a equipe de produção construiu sets gigantescos e detalhados. A recriação de partes da cidade de Jerusalém, incluindo suas muralhas e portões, foi um feito impressionante de design de produção, exigindo meses de trabalho e a participação de centenas de artesãos.
O filme também utilizou milhares de figurantes e cavalos, especialmente nas cenas de batalha, que foram coreografadas com um nível de realismo e brutalidade raramente vistos em filmes épicos. Esse compromisso com a autenticidade e a magnitude contribuiu significativamente para a grandiosidade visual de “Cruzada”, imergindo o espectador em um mundo medieval de forma sem precedentes.
Elenco e personagens principais
A força de um épico histórico como “Cruzada” reside não apenas em sua escala visual e enredo, mas também na capacidade do seu elenco em dar vida a personagens complexos e multifacetados. Ridley Scott reuniu um conjunto de atores talentosos, que contribuíram para a profundidade emocional e a credibilidade das figuras que habitam a Terra Santa do século XII.
Orlando Bloom como Balian de Ibelin
Orlando Bloom assume o papel central de Balian de Ibelin, o protagonista da jornada épica em “Cruzada”. Na época do filme, Bloom era amplamente conhecido pelos seus papéis em grandes franquias como “O Senhor dos Anéis” e “Piratas do Caribe”, mas “Cruzada” representou uma oportunidade para ele demonstrar sua capacidade de liderar um drama histórico complexo.
Sua interpretação de Balian o transformou de um ferreiro atormentado pela perda em um líder relutante, que se vê obrigado a assumir a responsabilidade de defender Jerusalém. A performance de Bloom é notável pela maneira como ele transmite a evolução de Balian: um homem inicialmente movido pela desesperança, que encontra um novo propósito na Terra Santa e se dedica a defender os valores de tolerância e justiça.
Ele retrata a força física e moral de Balian, mas também a sua vulnerabilidade e os seus conflitos internos diante das cruéis realidades da guerra e da política medieval. A escolha de Bloom para o papel foi, inicialmente, alvo de algumas críticas, mas sua atuação na versão do diretor do filme acabou consolidando sua performance como um dos pontos altos da produção.
Eva Green, Liam Neeson e outros destaques do elenco
O elenco de “Cruzada” é enriquecido por uma constelação de talentos que dão peso e nuances aos seus papéis. Eva Green brilha como a intrigante e complexa Princesa Sibylla, irmã do Rei Balduíno IV e esposa de Guy de Lusignan. Sua performance captura a dualidade de Sibylla, dividida entre o dever, a paixão e a dor de um reino em crise. Liam Neeson, em um papel crucial como Godfrey de Ibelin, o pai de Balian, entrega uma atuação poderosa e paternal, que estabelece as bases da jornada do protagonista.
Apesar de sua participação ser limitada a uma parte inicial do filme, a sua presença é fundamental para o desenvolvimento da trama. Outros atores que se destacam incluem Edward Norton como o enigmático e atormentado Rei Balduíno IV, cuja performance, mesmo sob uma máscara que esconde o rosto desfigurado pela lepra, é magistral em transmitir a sabedoria, a fragilidade e a autoridade do monarca.
Ghassan Massoud oferece uma interpretação notável e digna de Saladino, o líder muçulmano, retratando-o com sabedoria, honra e humanidade. Além deles, Jeremy Irons como o perspicaz Tibério, Marton Csokas como o ambicioso e fanático Guy de Lusignan, e Brendan Gleeson como o brutal Reynald de Châtillon completam um elenco que eleva a qualidade dramática do épico.
Características e desenvolvimento de cada personagem
Os personagens de “Cruzada” são desenhados com uma riqueza que transcende o simples papel de coadjuvantes, cada um possuindo características e um arco de desenvolvimento que contribuem para a complexidade da narrativa.
Balian de Ibelin é o epicentro dessa complexidade: de um homem sem fé e sem propósito, ele se transforma em um líder moral, forçado a tomar decisões difíceis para proteger inocentes, independentemente de sua religião. Sua jornada é de autodescoberta e de um amadurecimento doloroso, onde a fé se manifesta não em dogmas, mas em ações.
O Rei Balduíno IV se destaca como um governante visionário e trágico. Apesar de sua doença debilitante, sua sabedoria e seu desejo de paz são inabaláveis, e ele se esforça para manter a harmonia no seu reino. Saladino, por sua vez, é retratado não como um vilão, mas como um líder igualmente complexo, movido por sua fé e pelo seu dever para com seu povo, mas também capaz de compaixão e honra.
Em contraste, figuras como Guy de Lusignan e Reynald de Châtillon representam o fanatismo e a ambição cega, servindo como catalisadores para o conflito que se desenrola. A Princesa Sibylla, dividida entre o seu amor por Balian e o seu dever dinástico, completa o quadro de personagens que, juntos, pintam um retrato vívido e multifacetado da Terra Santa em tempos de guerra.
Relação entre ficção e figuras históricas reais
“Cruzada” se inspira em figuras históricas reais, mas exerce liberdades criativas consideráveis para construir sua narrativa. A história de Balian de Ibelin, embora baseada em um nobre cruzado que de fato desempenhou um papel crucial na defesa de Jerusalém em 1187, é altamente ficcionalizada no filme.
O Balian histórico era uma figura muito mais estabelecida e influente na Terra Santa do que o ferreiro rural retratado por Orlando Bloom. A sua origem humilde no filme serve como um dispositivo narrativo para criar um arco de ascensão mais dramático e acessível ao público.
Da mesma forma, personagens como o Rei Balduíno IV, Saladino, Princesa Sibylla, Guy de Lusignan e Reynald de Châtillon são baseados em figuras históricas, mas suas personalidades, motivações e, em alguns casos, os seus relacionamentos são adaptados para se encaixar na trama e nos temas que Ridley Scott desejava explorar.
Por exemplo, o relacionamento romântico entre Balian e Sibylla no filme é uma invenção, enquanto a complexidade de Saladin é enfatizada para contrastar com o fanatismo de outros cruzados. Essas liberdades permitem que o filme explore uma narrativa mais acessível e dramática, sem, no entanto, negligenciar completamente o pano de fundo histórico que o inspirou.
Aspectos técnicos de “Cruzada”
A imersão em um épico histórico como “Cruzada” é amplamente moldada pelos seus aspectos técnicos. Ridley Scott é um diretor que confia fortemente na capacidade da cinematografia, do design de produção e da trilha sonora para construir mundos e evocar emoções. Em “Cruzada”, cada um desses elementos foi empregado com maestria para criar uma experiência visual e auditiva que transporta o espectador diretamente para o século XII.

Fotografia, direção de arte e efeitos visuais
A fotografia de “Cruzada”, assinada por John Mathieson, é um dos pontos altos do filme, contribuindo imensamente para a sua atmosfera grandiosa e, por vezes, sombria. As paisagens desérticas e as cidades fortificadas de Marrocos são capturadas com uma beleza árida, enquanto as cenas de batalha são filmadas com uma clareza e uma escala que as tornam visceralmente impactantes.
A paleta de cores, dominada por tons terrosos, cria uma sensação de autenticidade e crueza, refletindo a dureza da vida na Terra Santa medieval. A direção de arte, liderada por Arthur Max, é igualmente excepcional, com a recriação de Jerusalém e outros cenários medievais sendo um feito impressionante.
Os detalhes nos figurinos, nas armaduras e nos adereços contribuem para a autenticidade visual, transportando o espectador para a época. Os efeitos visuais, embora utilizados com moderação para manter o realismo, são eficazes em ampliar a escala das batalhas e a grandiosidade dos exércitos, integrando-se perfeitamente com as filmagens práticas. A combinação desses elementos técnicos resultou em um filme visualmente deslumbrante que envelheceu bem, mantendo sua capacidade de impressionar.
A trilha sonora de Harry Gregson-Williams
A trilha sonora de “Cruzada”, composta por Harry Gregson-Williams, é um componente vital que eleva a experiência emocional e dramática do filme. Conhecido por seus trabalhos em “As Crônicas de Nárnia” e “Shrek”, Gregson-Williams cria uma partitura que é ao mesmo tempo épica e introspectiva, capturando a grandiosidade das batalhas e a complexidade dos dilemas morais dos personagens.
A música transita entre majestosos temas orquestrais, que evocam a vastidão das paisagens e a magnitude dos exércitos, e passagens mais melancólicas e emotivas, que sublinham as perdas e as esperanças de Balian e outros personagens. A trilha sonora incorpora elementos de instrumentação medieval e árabe, adicionando uma camada de autenticidade e imersão cultural ao filme.
Temas como “Light of Life” e “Burning the Past” são particularmente memoráveis, transmitindo um senso de urgência e melancolia, enquanto “A New World” captura a promessa de um novo começo. A música de Gregson-Williams não apenas acompanha a narrativa, mas se torna um elemento fundamental que amplifica as emoções do público, contribuindo para a atmosfera épica e a ressonância duradoura de “Cruzada”.
Contexto histórico e fidelidade de “Cruzada”
Qualquer épico histórico que se proponha a retratar eventos de séculos passados enfrenta o desafio de equilibrar a fidelidade histórica com as exigências da narrativa cinematográfica. “Cruzada” não é exceção, e o seu relacionamento com o contexto histórico da Terceira Cruzada tem sido objeto de debate e análise desde o seu lançamento.
A Terceira Cruzada como pano de fundo do filme
“Cruzada” utiliza a Terceira Cruzada como pano de fundo, embora o filme se concentre especificamente nos eventos que a precederam, culminando no Cerco de Jerusalém em 1187 e na subsequente queda da cidade para as forças de Saladino. Este período foi marcado por tensões crescentes entre os reinos cruzados latinos e as forças muçulmanas lideradas por Saladino, que buscavam retomar os territórios sagrados.
O filme retrata a frágil trégua mantida pelo Rei Balduíno IV e a ascensão de figuras mais radicais, como Guy de Lusignan e Reynald de Châtillon, cujas ações provocaram a ira de Saladino e levaram à retomada das hostilidades. O filme captura a atmosfera de um reino dividido e em declínio, onde a fé se misturava com a política e a ganância. Ele mostra a diversidade de grupos presentes na Terra Santa na época, incluindo templários, hospitalários, nobres europeus e a população local muçulmana e cristã.
A narrativa culmina na Batalha de Hattin, um desastre para os cruzados que abriu o caminho para Saladino sitiar Jerusalém, eventos que foram cruciais para o início da Terceira Cruzada propriamente dita, quando potências europeias como a Inglaterra de Ricardo Coração de Leão e a França de Filipe II Augusto lançaram uma nova ofensiva para recapturar a cidade.
Análise das liberdades criativas e seu impacto na narrativa
Embora “Cruzada” se baseie em eventos e figuras históricas, Ridley Scott e o roteirista William Monahan tomaram consideráveis liberdades criativas para adaptar a história ao formato cinematográfico. A principal delas é a simplificação e romantização da vida de Balian de Ibelin. O Balian histórico era um nobre estabelecido na Terra Santa com uma longa trajetória militar e política, não um ferreiro francês que descobre sua linhagem.
Essa alteração serve para criar um arco de personagem mais dramático e compreensível para o público moderno, transformando-o em um herói relutante que ascende à liderança. Outras liberdades incluem a idealização do Rei Balduíno IV como um monarca quase utópico e a representação de Saladino como um líder exemplar de honra e tolerância, embora ambos fossem figuras históricas complexas.
A intensidade e a natureza do relacionamento entre Balian e Sibylla também são dramatizações significativas. Essas modificações, embora questionáveis em termos de fidelidade histórica estrita, são justificadas pela equipe de produção como necessárias para criar uma narrativa mais envolvente e para explorar os temas desejados por Scott, como a busca pela paz em meio ao fanatismo.
O impacto dessas liberdades é que o filme se tornou mais acessível e ressonante com as audiências contemporâneas, mesmo que isso signifique sacrificar um pouco da precisão histórica em favor do drama e da mensagem.
Versão original vs. Versão do diretor
A trajetória de “Cruzada” nos cinemas foi peculiar, e sua recepção foi drasticamente alterada pela existência de duas versões distintas: a que foi lançada nos cinemas e a Versão do Diretor (Director’s Cut). A diferença entre elas não é apenas uma questão de minutos adicionais, mas de uma reconfiguração narrativa que transformou a percepção e o legado do filme.

Diferenças entre as duas versões do filme
A versão original de “Cruzada”, lançada nos cinemas em 2005, tinha aproximadamente 144 minutos de duração. Para se adequar às exigências de tempo dos cinemas e para tentar atrair um público mais amplo, esta versão sofreu cortes significativos que simplificaram a trama e, em alguns aspectos, diminuíram a profundidade dos personagens. Cenários e subtramas foram reduzidos ou completamente removidos, impactando o fluxo narrativo e as motivações de certas ações.
Em contraste, a Versão do Diretor, lançada em DVD e Blu-ray alguns meses depois, estende-se por impressionantes 194 minutos, adicionando cerca de 45 minutos de cenas e desenvolvimentos de personagem. Essas cenas adicionais são cruciais, pois restauram arcos de história importantes que foram sacrificados na versão cinematográfica.
Por exemplo, a subtrama do filho de Sibylla, com suas implicações para a sucessão e a política de Jerusalém, é totalmente restaurada, dando mais peso às ações da Princesa e à tragédia que se abate sobre a família real. O desenvolvimento de Balian, as interações com outros personagens e o contexto político geral são aprofundados, tornando a narrativa mais coesa e os personagens mais tridimensionais.
Como a versão do diretor redefiniu a recepção crítica
A Versão do Diretor de “Cruzada” não foi apenas uma extensão, mas uma verdadeira redefinição da recepção crítica e pública do filme. A versão cinematográfica, lançada em 2005, recebeu críticas mistas. Muitos elogiaram os visuais, a escala e as cenas de batalha, mas criticaram a narrativa como apressada, os personagens como superficiais e a trama como simplificada. A bilheteria foi decepcionante, e o filme não conseguiu alcançar o status de épico que Ridley Scott e o estúdio esperavam.
No entanto, quando a Versão do Diretor foi lançada, a narrativa mudou drasticamente. Críticos e público foram unânimes em apontar que esta versão era superior em todos os aspectos.
As cenas restauradas preencheram lacunas, deram mais contexto às motivações dos personagens (especialmente Balian e Sibylla) e permitiram que a história se desenvolvesse em um ritmo mais orgânico e impactante. O filme, que antes parecia um espetáculo vazio para alguns, revelou-se um épico complexo e emocionalmente ressonante.
Muitos críticos que haviam dado notas baixas à versão original revisaram suas opiniões, elevando a avaliação do filme e reconhecendo-o como uma obra-prima injustiçada. A Versão do Diretor de “Cruzada” é frequentemente citada como um exemplo primordial de como a visão original de um diretor pode ser crucial para o sucesso e o legado de um filme.
Recepção de “Cruzada”
A jornada de “Cruzada” em sua recepção pública e crítica foi um tanto tumultuada, mas reveladora. Inicialmente, o filme enfrentou um caminho difícil, mas a história de seu legado mostra uma recuperação notável, impulsionada em grande parte por uma versão específica.
Análise da crítica especializada e do público
A recepção inicial de “Cruzada” pela crítica especializada e pelo público foi mista e, em muitos casos, decepcionante. A versão cinematográfica foi criticada por sua narrativa apressada, que parecia sacrificar o desenvolvimento dos personagens e a profundidade histórica em favor de um ritmo mais rápido.
Muitos críticos acharam que o filme, apesar de sua impressionante escala e visuais, carecia de um coração pulsante, com o arco de Balian de Ibelin (interpretado por Orlando Bloom) sendo considerado superficial por alguns. As cenas de batalha foram elogiadas, mas o impacto emocional geral foi visto como deficiente.
Para o público, a bilheteria de “Cruzada” nos Estados Unidos foi abaixo do esperado, resultando em um desempenho comercial modesto para um filme de seu porte. No entanto, o filme encontrou um público mais receptivo internacionalmente. A grande virada na recepção veio com o lançamento da Versão do Diretor.
Essa versão, mais longa e com a restauração de cenas e subtramas importantes, foi amplamente aclamada pela crítica, que a considerou uma obra-prima. A narrativa se tornou mais rica, os personagens mais complexos e a mensagem de tolerância e humanidade mais evidente. O público, ao descobrir essa versão, também reavaliou o filme, que ganhou um status de culto e é hoje considerado a versão definitiva e superior por muitos fãs.
O impacto do filme na carreira de Ridley Scott
“Cruzada” teve um impacto complexo na carreira de Ridley Scott. Após o sucesso estrondoso de “Gladiador” (2000), que rendeu a ele o Oscar de Melhor Filme e reacendeu o interesse em épicos históricos, havia grande expectativa para “Cruzada”. No entanto, a recepção morna da versão cinematográfica e o seu desempenho de bilheteria nos EUA foram um revés para o diretor, que havia investido pesadamente na produção. Isso gerou dúvidas sobre sua capacidade de replicar o sucesso de “Gladiador” em um gênero similar.
Contudo, a aclamação quase universal da Versão do Diretor acabou por solidificar a reputação de Scott como um visionário, cuja visão artística pode ser comprometida por interferências do estúdio. A Versão do Diretor não apenas resgatou a imagem de “Cruzada” como um grande filme, mas também reforçou a confiança dos fãs e da crítica na integridade artística de Scott.
Esse episódio destacou a importância da autonomia do diretor em projetos ambiciosos e serviu como um lembrete de que, por vezes, a visão original de um cineasta é a que melhor serve à obra. “Cruzada” (na sua versão do diretor) é agora vista como um dos trabalhos mais ambiciosos e bem-sucedidos de Ridley Scott, demonstrando sua paixão por histórias épicas e sua habilidade em equilibrar grandiosidade visual com profundidade temática.
Resumo da importância de “Cruzada” como um épico histórico
“Cruzada” se consolidou como um épico histórico de grande importância, não apenas pela sua escala visual e seu espetáculo de batalhas, mas pela sua capacidade de provocar reflexão sobre temas complexos e atemporais. O filme de Ridley Scott transcende a mera reconstituição de eventos passados para oferecer uma análise perspicaz sobre a natureza da fé, a cegueira do fanatismo e a urgência da tolerância em um mundo dividido.
A sua relevância, amplificada pela superioridade da Versão do Diretor, reside na coragem de explorar as nuances da história e na humanização de figuras de ambos os lados de um conflito religioso. A obra não apenas influenciou o gênero de épicos com os seus padrões de realismo e grandiosidade, mas também deixou um legado como um filme que ousa questionar as motivações da guerra e a moralidade de suas consequências.
“Cruzada” nos lembra que a busca por um “reino dos céus” muitas vezes se manifesta na capacidade humana de compaixão e convivência, mesmo nas circunstâncias mais brutais. É um testemunho do poder do cinema em educar, entreter e, acima de tudo, inspirar uma reflexão mais profunda sobre a história e a condição humana.
