Interestelar: Uma jornada pelo espaço, tempo e emoção

Interestelar é um filme de ficção científica dirigido e co-escrito por Christopher Nolan (Batman, Oppenheimer, A Origem, etc.) e de maneira brilhante trouxe para as telas algumas das teorias mais complexas sobre viagens no espaço, colonização de exoplanetas, inteligência artificial, física teórica e a vida na Terra após um cataclismo climático.

Nas bilheterias, Interestelar foi um sucesso estrondoso, sua arrecadação ultrapassou os 650 milhões de dólares apenas no ano de lançamento; um dos maiores sucessos daquele ano. 

Não é preciso destacar que o filme, com seus efeitos visuais inovadores e uma campanha de marketing ostensiva, tornou-se sucesso também de crítica e de público, sendo considerado um novo divisor de águas no gênero de ficção. Vem conferir a análise que a Citou Filmes preparou para você, cinéfilo e entusiasta da ciência!

O enredo de Interestelar: além da ficção científica

Não restam dúvidas de que Interestelar é um dos melhores filmes de ficção já lançados. Todavia, sua importância transcende a cinematografia e convoca o público a refletir sobre sua condição presente num planeta que poderá, no futuro, estar à beira de colapso ambiental. Comprometendo não apenas a biodiversidade, mas também a sobrevivência da humanidade. 

De maneira geral, o enredo do filme é sobre um futuro não muito distante no qual o planeta Terra estaria vivendo os efeitos devastadores de uma catástrofe climática, como tempestades de areia, improdutividade da diversidade agrícola, escassez de recursos e a humanidade em meio a este contexto tentando, de alguma forma, resistir às adversidades. 

Inserido neste cenário desolador, um engenheiro e ex-piloto da NASA, Joseph Cooper, e sua família, interpretada pelo ator Matthew McConaughey, são convencidos a deixar sua vida na Terra e sair numa missão de busca por um novo lar para a humanidade, em planetas distantes. 

Este dilema que aflige o personagem central do filme nos leva a refletir sobre as escolhas que fazemos, e quantas vezes somos levados a deixar para trás o que mais estimamos em busca do bem coletivo. 

No decorrer da narrativa de Interestelar, Cooper enfrentará outras adversidades, como os desafios da limitação corpórea dos humanos diante das leis da física quântica e da relatividade. Bem como, os conflitos internos de ordem psicossocial, dentre os quais o mais significativo para a história do filme é a separação de sua filha, Murphy Cooper, interpretada pelas atrizes Mackenzie Foy (criança), Jessica Chastain (adulta) e Ellen Burstyn (idosa). 

A separação de um ente querido pode gerar um sofrimento comparável ao sentimento de luto, em especial pelas incertezas que este sentimento pode gerar. Contudo, o personagem Cooper reencontra seu propósito e de sua jornada, apesar da dor, se mantendo firme. 

Apesar de ser um filme de Ficção Científica, Interestelar explora o tempo todo estes conflitos pessoais e interpessoais. O abandono da vida pregressa, assim como a jornada através do desconhecido, pode causar a impressão de incertezas sobre o sucesso do projeto liderado por Cooper. 

Outrossim, o impacto emocional diante da contradição entre permanecer na mesma idade enquanto seus amigos e parentes morrem e envelhecem. Em certos momentos, a história do filme pode ser um pouco angustiante para o público.

O filme harmoniza elementos dramáticos, filosóficos e de aventura de maneira envolvente numa trama que nos convida a refletir sobre a nossa relação com a natureza, com a família e amigos; ressaltando o valor da esperança e do esforço humano em conjunto. Tudo isto é apresentado na narrativa sob uma produção impressionante e com muitos momentos de forte emoção. 

A ciência por trás de Interestelar: realismo e especulação

Algo que chama muita atenção no filme é como as teorias científicas que norteiam a física moderna estão bem sintetizadas na trama. Ainda que algumas sejam apenas especulações, sua aparição nos faz pensar como as leis que regem o universo podem ser estranhas a nós, pessoas leigas em assuntos complexos da ciência.

Viagens interplanetárias e buracos de minhoca

Uma destas especulações é conhecida como buracos de minhoca. Um nome popularizado para as soluções teóricas derivadas das equações da relatividade geral do físico Albert Einstein; o termo científico da teoria dos buracos de minhoca é “Pontes de Einstein-Rosen”. Em teoria, ela serve para conectar duas regiões distantes do universo. 

Este atalho desempenha um papel fundamental no filme, justificando a plausibilidade de uma viagem espacial que possa ser realizada em um prazo compatível com o tempo de vida do ser humano. Porém, na física atual, os buracos de minhoca são apenas especulativos. 

Dilatação do tempo e relatividade

Outro conhecimento das teorias físicas abordadas no filme é a teoria da relatividade geral e a dilatação do tempo, sobretudo na região próxima dos buracos negros Gargantua (não confundir com os buracos de minhoca); também presente no filme. Na narrativa de Interestelar, o tempo passa mais lentamente para os personagens que estão orbitando o buraco negro hipermassivo. 

Consultoria científica e a presença de Kip Thorne

É importante destacar o envolvimento do renomado físico estadunidense Kip Thorne, prêmio Nobel de Física em 2017. Ele atuou como consultor científico principal, colaborando ativamente com os roteiristas e diretores, garantindo assim que estes aspectos científicos fossem precisos e inteligíveis ao público leigo. 

Thorne ajudou a criar imagens como a do buraco negro Gargantua, bem como sua consultoria nos conceitos como multidimensões, dilatação do tempo, espaço-tempo, etc. Vale lembrar, que o mesmo Kip Thorne lançou um livro intitulado “The Science of Interstellar” (A Ciência de Interestelar), detalhando os principais aspectos científicos do filme e as escolhas feitas na produção. 

Emocionalidade em Interestelar: o amor como força fundamental

Em Interestelar, o amor é apresentado como uma dimensão ainda não totalmente compreendida pela ciência, apesar de não ser distante entre si. Desde o início até o final do filme, este sentimento é apontado como uma espécie de força poderosa que transcende as barreiras do tempo, espaço e até mesmo da lógica científica moderna. 

O amor entre Cooper e sua filha Murphy, sua conexão emocional, funciona no enredo do filme como uma ligação que pode não ser racional para as teorias mais hardcore da ciência moderna, contudo, ela será fundamental para resolver os enigmas do universo de Interestelar. 

Destarte, o amor é aqui destacado como um sentimento essencial, mesmo que difícil de ser explicado pela ótica e o método de investigação de uma ciência como a física. O filme nos lembra que o amor está na categoria de coisas que não podem ser mensuradas pela ciência, como outros sentimentos e aspectos humanos. Exceto nas cenas em que aparecem os robôs, Tars e Case, que podem ter seus sentimentos aumentados e reduzidos.

Filosofia e existencialismo em Interestelar: quem somos no cosmos?

Você poderá constatar que em Interestelar há uma perspectiva existencialista permeando o roteiro do filme. Apesar de não estar nitidamente influenciada pelos autores da renomada escola filosófica, esta abordagem do filme levanta questões sobre quem somos diante da vastidão do universo e se há algum propósito para os seres humanos. Levando o público a se questionar sobre o significado da existência diante do infinito. 

Outras questões relativas à identidade serão exploradas através do papel desempenhado por seus autores centrais, que estão o tempo inteiro enfrentando dilemas éticos e afetivos na busca de salvar a humanidade. Como as escolhas entre salvar a humanidade e salvar a si, agir guiados pela razão ou pelo amor, que seria um aspecto não muito lógico. 

O tempo como prisão e libertação

Há também mistérios relativos ao tempo, algo central para a filosofia desde as épocas mais remotas da humanidade. No filme, é um dos seus principais temas e terá impacto direto nas decisões tomadas por seus personagens centrais. Em Interestelar, o tempo é uma alegoria para a continuidade da condição humana terrena: o limite da vida, a corrida para renovar as esperanças e a busca de um sentido para a vida. 

O paradoxo humano: destruição e salvação

Não é segredo que a humanidade é um vetor de sua redenção ou condenação. Nossa relação com a natureza nos últimos 200 anos deixa evidente como, no afã de melhorar a condição existencial no planeta, acabamos por destruí-lo sem controle. Em Interestelar, o cataclismo ambiental levou à busca por condições de vida semelhantes às da Terra em outros planetas. 

O processo de escassez  de recursos naturais e as mudanças climáticas motivadas, certamente, pela negligência e ganância humana resultaram num planeta que gradativamente se tornava mais inóspito para os seres humanos. E, neste sentido, este filme ressalta a responsabilidade coletiva pela própria existência neste planeta, seja no presente ou no futuro. 

A dimensão espiritual do desconhecido

Em Interestelar, o desconhecido também se impõe como um problema  a ser enfrentado. E não se trata apenas dos mistérios que se escondem na imensidão do Universo, mas também dos aspectos misteriosos que habitam em nós, como a espiritualidade e a psique. O espaço profundo neste filme pode ser compreendido como uma metáfora para refletirmos sobre a transcendência; o infinito torna-se um reflexo destas categorias misteriosas do próprio humano. 

Impacto cultural de Interestelar: legado e influência

Interestelar influenciou uma nova geração de obras cinematográficas de ficção científica e até renovou o interesse do público pela temática espacial e tecnológica. Haja visto seu sucesso de bilheteria e público no seu ano de lançamento, bem como suas repercussões posteriores em filmes que buscavam combinar teorias rigorosas da ciência com elementos filosóficos existenciais — repito: não necessariamente do existencialismo da filosofia acadêmica. 

Outra característica do seu legado é sua inovação estética/visual que repercutiu na produção de outros filmes que igualmente exploraram temas como viagens espaciais, colonização de outros planetas, conceitos científicos e como seria a vida dos que permaneceram na Terra. 

A trilha sonora do filme, composta pelo genial Hans Zimmer, é sem dúvida uma das mais memoráveis obras do gênero na cinematografia. A utilização de órgãos trouxe uma experiência auditiva profundamente emocional indissociável da narrativa. É nitidamente uma imersão numa atmosfera que reforça a experiência emocional do roteiro. Vale ressaltar que ela influenciou outras trilhas sonoras do gênero de ficção. 

Interestelar foi indicado a vários prêmios, chegando a conquistar o Oscar de melhor efeitos visuais e ainda foi indicado à premiação em outras categorias, como melhor som, melhor edição de som e melhor trilha sonora. Este filme é, sem sombra de dúvidas, um marco no cinema de ficção científica e a Citou Filmes fez questão de fazer uma análise dele para você, cinéfilo!

O que Interestelar nos ensina sobre o futuro da humanidade

É mister para a experiência do filme que as discussões aqui elencadas sejam percebidas, especialmente devido à sua concepção científica e profundamente filosófica. No entanto, cabe dizer que é possível discutir este filme sob diversos aspectos (filosófico, científico, emocional, ético, humano, dramático, etc.) ou características visuais, como só as melhores obras de arte são capazes de nos proporcionar. 

Resumidamente, Interestelar elevou o padrão nas produções cinematográficas do gênero de ficção científica. E também foi responsável por estimular reflexões profundas sobre os riscos da exploração sem controle dos recursos naturais do planeta, bem como as limitações atuais de exploração espacial. E a Citou Filmes organizou estas observações para você, cinéfilo, poder realizar suas ponderações sobre o filme. 

Diante de um cenário em que estariam os humanos em risco de desaparecer do planeta Terra, e cientes das incertezas da possibilidade de viver em outras galáxias, filmes como Interestelar nos fazem pensar sobre o papel que a ciência pode desempenhar quando trabalhando aliada aos sentimentos de esperança, empatia, altruísmo e amor. E, conforme o filme, estes podem ser os elementos constitutivos das melhores alternativas para resistir diante de um contexto como este. 

Interestelar: Uma jornada pelo espaço, tempo e emoção
Interestelar: Uma jornada pelo espaço, tempo e emoção

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