Jurassic World: Recomeço (2025) | Crítica

Caso o controverso Luke Skywalker de Os Últimos Jedi (2017) saísse da sala de cinema de Jurassic World: Recomeço (2025), diria que “é hora dos dinossauros acabarem”. Se não os dinossauros, ao menos a franquia Jurassic Park, e toda a sua bagagem indissociável (talvez mais por zona de conforto do que por condição sine qua non).

Ainda citando Star Wars, tanto o primeiro Jurassic World quanto O Despertar da Força (não coincidentemente ambos de 2015), não incomodaram ao repetir a fórmula dos originais. Isso porque as pessoas se permitem sentir saudade quando é dado um tempo propício para tanto; e, mesmo cientes de que estão sendo manipuladas, aceitam de bom grado, em troca de um pouco de dopamina.

A Fadiga das Franquias e o Paradoxo da Nostalgia

O que Hollywood e os grandes estúdios parecem teimar em não aceitar, mais do que não compreender, é que esse tipo de fenômeno funciona uma ou duas vezes (com a segunda sempre menos radiante do que a anterior). E mais uma vez, tanto Os Últimos Jedi (2017) quanto Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) provam isso. Por fim, A Ascensão Skywalker (2019) e Jurassic World: Domínio (2022) constatam que a terceira vez está fadada ao excesso de fan service e falta do que contar (ou incapacidade de saber como). 

Jurassic World: Recomeço
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

Se esses paralelos entre as duas franquias — encabeçadas, originalmente, pelos grandes amigos George Lucas e Steven Spielberg, ambas com composição de John Williams — estão sendo usados em demasia até aqui; é para expor um fenômeno quantificável e qualificável em Hollywood, que apenas encerrar-se-á quando os estúdios ousarem mais.

Jurassic World: Recomeço, nesse cenário, vai além do terceiro longa de uma trilogia de sequência/reboot. Pode-se dizer que acerta mais do que o seu antecessor, de três anos atrás: mas não o bastante. Tudo o que há de bom no longa — e não nos enganemos, há elementos positivos, sim — não justifica a sua existência enquanto narrativa. Se Hollywood é uma indústria, ainda é baseada em histórias e, portanto, arte; em alguma escala.

Não é preciso ser um crítico ou profissional da área: o público sente as fadigas e os números provam isso. E, quando alguma exceção se dá, a segunda tentativa já prova ter sido sorte. Reino Ameaçado tentou fazer algo um pouco diferente com a franquia, então pode-se dizer que Jurassic World: Recomeço seria o equivalente de O Mundo Perdido (1997) em relação a Jurassic Park (1993). Porém, com muito menos carisma em absolutamente todos os sentidos.

Personagens sem Carisma: O Elo Perdido da Narrativa

Entre os principais nomes está Scarlett Johansson, interpretando Zora Bennett, uma especialista em operações secretas. Ao seu lado, Mahershala Ali vive Duncan Kincaid, o capitão do barco que levará a tripulação aos perigos do oceano e da ilha, respectivamente. O elenco também conta com Jonathan Bailey no papel do Dr. Henry Loomis, um paleontólogo cuja expertise é essencial, e Rupert Friend como Martin Krebs, representante da empresa farmacêutica que contrata a equipe. Para completar o grupo, estão Ed Skrein, Philippine Velge e Bechir Sylvain, como membros da equipe liderada por Kincaid.

Personagens-sem-Carisma-O-Elo-Perdido-da-Narrativa
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

A narrativa apoia-se, ainda, com a presença de Manuel Garcia-Rulfo, que interpreta Reuben Delgado, um pai que, junto com sua família, luta para sobreviver após um naufrágio. Luna Blaise e Audrina Miranda dão vida às filhas de Reuben, Teresa e Isabella, enquanto David Iacono interpreta Xavier Dobbs, o namorado de Teresa. Como os membros anteriores do elenco consistem mais em mercenários/especialistas, essa família cumpre a função de trazer personagens com os quais o público possa se relacionar melhor — e falha miseravelmente.

Se o grupo encabeçado da missão principal compensasse a falta de carisma da família, o resultado seria mais palatável; mas a verdade é que não há nenhum personagem carismático no longa — salvo o chapado personagem de David Iacono, que cativa até que o bastante, ao apresentar um desenvolvimento de personagem razoável.

Personagens sem Carisma O Elo Perdido da Narrativa
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

Soma-se à falta de aprazibilidade dos personagens (não do elenco, necessariamente, pois Mahershala Ali traz isso naturalmente consigo, seguido por Johansson), a falta de inspiração do roteiro em sair do óbvio. Categoricamente todas as mortes e sobrevivências são absolutamente previsíveis, e qualquer senso de perigo dura alguns milésimos de segundo, assim que nos damos conta disso — o que se dá muito rápido.

Monstros, Dinossauros e a Direção de Gareth Edwards

O longa é dirigido por Gareth Edwards, com trilha sonora composta por Alexandre Desplat — vencedor de dois Oscars, por O Grande Hotel Budapeste (2014) e A Forma da Água (2017) —, e escrito por David Koepp, roteirista do Jurassic Park original. 

Monstros, Dinossauros e a Direção de Gareth Edwards
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

Apesar do talento de Edwards em lidar com monstros — desde Monsters (2010), seguido pelo Godzilla de 2014 e até mesmo por Rogue One (2016), pela forma de filmar as naves e, sobretudo, os AT-ACT, como se fossem criaturas —, os dinossauros ainda não são o bastante para justificar de verdade da obra; ainda que sejam o seu maior acerto.

Entre os dinossauros tradicionais apresentados, o Quetzalcoatlus é o mais interessante; tanto por sua distinção visual e imponência, quanto por ser novo na franquia. Segue-se a ele o Mosassauro, que temos a oportunidade de ver em seu habitat natural, e não no aquário do Jurassic World de 2015. O Titanossauro também é uma adição bem-vinda. Além disso, apesar de o Espinossauro do longa de 2001 ser mais imponente e atrativo, foi satisfatório vermos o espécime apresentado com maior fidelidade desta vez. Por fim, o T-Rex é mostrado para bater ponto, mas não traz nada de novo.

Quetzalcoatlu
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

Apesar do já comprovado talento de Desplat como compositor, a trilha é pouco inspirada (ao contrário do trabalho de Michael Giacchino na trilogia anterior e, obviamente, do de John Williams nos originais); e o roteiro de Koepp é prejudicado por si só, mas também em consonância com a supracitada fadiga da franquia — inclusive abordada explicitamente ao longo do seu texto, pois a população mundial do longa deixou de ver os dinossauros como novidade, e está completamente desinteressada.

Aberrações sem Elegância

Esse desgaste, inclusive, vem buscado ser evitado desde 2015 e 2018, com a apresentação de dinossauros explicitamente modificados geneticamente (lembremo-nos de que todos são), com o Indominus rex e o Indoraptor, respectivamente. Aqui, o mutante da vez é o Distortus rex — também apelidado de D‑Rex — e os Mutadon. 

Aberrações sem Elegância
Fonte/Reprodução: Universal Pictures

O primeiro é vendido, sem dúvidas, como o grande destaque do filme. Ele é retratado como um T-Rex geneticamente deformado, com seis membros, o corpo grotescamente fundido com traços alienígenas e o design inspirado em criaturas como o Xenomorfo de Alien, o Oitavo Passageiro (1979), o Rancor de O Retorno de Jedi (1983), e até mesmo o M.U.T.O. do Godzilla dirigido por Edwards. Já os Mutadon são uma esquisita fusão de raptor e pterosauro. Para alguns, talvez, essas aberrações possam funcionar; mas lhes falta a elegância do Indominus rex e do Indoraptor e, evidentemente, dos dinossauros “originais”.

Jurassic World: Recomeço, portanto, veio para confirmar o que não era mistério para ninguém: ou ousa-se de verdade, mesmo que seguindo o formato de franquia; ou o velho Luke Skywalker está certo em querer acabar com os status quo — tanto o de uma galáxia muito distante, quanto o da Terra que voltou a abrigar seres jurássicos.

Jurassic World Recomeço (2025) Crítica
Jurassic World Recomeço (2025) Crítica

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