Longlegs: Vínculo Mortal (2024) é mais um dos inúmeros casos envolvendo um filme que deseja se utilizar do terror e criar um amálgama de dois ou mais gêneros (ao mesmo tempo em que busca a sua própria originalidade), mas que se torna refém do marketing – que precisa vender o filme dentro da “caixinha” estereotipada dos filmes de terror.
Esse talvez seja um dos maiores defeitos do gênero, refém de expectativas clichês, cujos filmes que encontram seu próprio caminho são, muitas vezes, esnobados pelo público. Felizmente, quando uma obra consegue se sustentar bem em seus próprios trunfos, a sua qualidade pode superar expectativas desorientadas.
Atmosfera
Longlegs é, acima de tudo, um suspense policial (crime thriller) que se permite tomar elementos fundamentais do terror para fazer uma jornada própria; ainda que inspirada em peso em longas como Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995) e O Silêncio dos Inocentes (1991). O que ambos têm em comum é a ambientação na época em que foram lançados. Longlegs troca a contemporaneidade pelos anos 90, o que explicita a sua inspiração.
Ainda sobre a ambientação, esta é sustentada pela fotografia de Andrés Arochi, pelos enquadramentos do diretor Osgood Perkins e pela escolha de cenários elegantes, como a casa envolta em neve no início do longa, exibida em um formato de tela que remete aos filmes em 16 mm, seguida dos créditos iniciais em vermelho, antes da sua expansão para preencher toda a tela de cinema e o longa, de fato, iniciar.
Insustentabilidade do mistério
De forma sucinta, a trama do filme se debruça sobre a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe), que prontamente revela uma intuição forte nos testes da agência e na resolução de casos. A sua habilidade é reconhecida quando encarregada pelo agente Carter (Blair Underwood, não Hayley Atwell) da investigação de uma série de assassinatos que datam de pelo menos três décadas, cometidos pelo autointitulado Longlegs (Nicolas Cage).
O caso, tal qual o longa, é envolto em mistério. Famílias (sempre um pai, uma mãe e uma menina que fará aniversário no dia 14) são assassinadas pelo patriarca, que termina sempre tirando a própria vida. Sabe-se que os pais não faziam isso por livre e espontânea vontade, mas também não se sabe como o antagonista controlava as vítimas.
Aí reside o problema de Longlegs. Abraçar o gênero de suspense policial foi uma escolha acertada do diretor, mas também responsável por diminuir a suspensão da descrença, habitual em um filme de terror. Perkins não a sustenta, ao apoiar o mistério nos parâmetros do terror convencional, que muitas vezes não requer explicações lógicas.
O amálgama até então bem-sucedido falha a partir daí, quando tenta-se desvencilhar de algo que até então estava propositalmente amarrado; e certos elementos do terror começam, com brusquidão, a tomar conta de uma história construída em outro ritmo e sob outros alicerces. O espectador é ensinado, filme a filme, as regras de cada história, e espera em troca consistência no que lhe foi passado.
O peso do talento
Essa quebra de ritmo, suspensão da descrença e recorte de Longlegs, no entanto, não subtrai a experiência até então oferecida por Perkins, em seu filme mais maduro. Além dos méritos do diretor e de sua equipe, o filme se sustenta em grande medida pelo trabalho de Monroe, como a protagonista deslocada pela qual adquirimos uma boa dose de empatia (sem a qual não conseguiríamos sentir medo e tensão) e pela atuação de Nicolas Cage.
Sem dúvidas o astro tem vivido uma retomada em sua carreira, com trabalhos sólidos e uma nova dose de confiança. O grande trunfo de Longlegs, no entanto, está mais em como Perkins sabe utilizar os exageros caricaturescos de Cage do que no mérito da atuação em si. Certos trejeitos e maneirismos do astro aqui presentes já foram vistos até em longas como Motoqueiro Fantasma – Espírito de Vingança (2012), não se constituindo novidade.
Ao contrário de muitos desses filmes, porém, Perkins sabe onde inserir os exageros e, talvez, quando pedir por eles. E, em sua volta, construir uma atmosfera que os torne mais assustadores e menos engraçados – ainda que flerte com o cômico, por vezes. Isso, somado à perturbadora caracterização do personagem, torna este um dos trabalhos de Nicolas Cage que pode ser apreciado sem ser de maneira irônica.
E você, já foi conferir Longlegs: Vínculo Mortal? O filme, lançado nos EUA em 12 de julho, já é considerado um sucesso, com um baixíssimo orçamento de 10 milhões de dólares e mais de 100 milhões em bilheteria. No Brasil, chega às telonas amanhã, 29 de agosto. Para ficar por dentro de mais críticas como esta, notícias e curiosidades sobre filmes e séries, confira a página da Citou Filmes e nossas redes sociais!
Nota: 3/5